sexta-feira, 27 de março de 2009

Rabeca de Zé Coco do Riachão




O instrumento aqui apresentado pertence ao grande rabequeiro Guilherme Bedran, do grupo Palha de Milho. Tive a oportunidade de conhecê-lo no nosso encontro de rabequeiros do mês de março.




Construída no ano de 1985, esta rabeca apresenta belíssimo trabalho de marchetaria no tampo, no espelho e no estandarte. As bolinhas brancas parecem ser uma marca dos intrumentos fabricados pelo Mestre Zé Coco do Riachão.







O dicionário Cravo Albin da Música Brasileira nos conta que José dos Reis Barbosa dos Santos nasceu em 1912 em Brasília de Minas, MG e foi "Criado na localidade de Riachão, onde nasceu, às margens do rio que leva o mesmo nome, na confluência dos municípios de Mirabela e Brasília de Minas, no Vale do São Francisco. O pai era fazedor e tocador de violas. No momento de seu nascimento, passava uma folia-de-reis e ele foi consagrado pela mãe aos santos Reis; por isso "dos Reis" registrado em cartório. Zé Coco deixava claro sua devoção aos Santos Reis, e sempre se apresentava como José Reis Barbosa dos Santos.

Ouvindo seu pai tocar desde que nasceu, aos 8 anos, já tocava viola que ele mesmo ia aprendendo a fazer. Foi marceneiro, carpinteiro, ferreiro, sapateiro, fazedor de cancelas, de engenho, de carro de boi, curral de tira, roda de rolar mandioca, mas o que o tornou conhecido, inclusive internacionalmente, foi a excelência dos instrumentos que fabricava e tocava: viola, violão, cavaquinho e rebeca. Aos vinte anos, assumiu a pequena fábrica de instrumentos de seu pai."

Para conhecer mais sobre a vida e Obra do mestre Zé Coco, assista este curta-metragem.

Para conhecer o som da rabeca nas mãos de Guilherme Bedran, assista aqui:


E para conhecer mais sobre o grupo Palha de Milho, clique aqui.

Em breve teremos postados aqui os discos de Zé Coco do Riachão, grande e tradicional mestre da rabeca, falecido em 1998.

Um abraço a todos!

terça-feira, 24 de março de 2009

Rabeca Brasileira, Música Latina - América Contemporânea



Formado por nove músicos de sete países da américa do sul, o América Contemporânea surgiu a partir da iniciativa do pianista brasileiro Benjamin Taubkin, inquieto com o isolamento cultural que o Brasil protagonizava no continente. Único país a falar o português, nosso Brasil esteve historicamente disjunto da música latina, a não ser por poucas e belíssimas exceções, como a grande Mercedes Sosa e suas parcerias com Milton e Chico, sobretudo.

Podemos conferir, nos vídeos a seguir, a beleza e a universalidade da rabeca de mestre Siba, figurando sem sotaques no belíssimo cenário da musica Latina.

O América Contemporânea surgiu em 2005 e tem um disco gravado, com o mesmo nome. Sinceramente, não sei se o projeto está parado ou se ainda se move e toca. Mas vale conferir os ótimos vídeos disponíveis.
Os Músicos: o pianista Benjamim Taubkin (Brasil),a cantora Lucia Pulido (Colômbia) o saxofonista e flautista Alvaro Montenegro (Bolívia), o violonista Aquiles Baez (Venezuela), o percussionista Luis Solar (Peru), o multi-instrumentista e cantor Carlos Aguirre (Argentina) e o contrabaixista Christian Galvez (Chile), o percussionista Ari Colares (Brasil) e o rabequeiro pernambucano Siba.

Quem quiser conferir o Myspace da banda clique em América Contemporânea

Aproveitem!




sábado, 21 de março de 2009

CD - As músicas de rabequeiros


Inaugurando uma nova postagem neste blog: um cd completo, produzido pelo programa de incentivo à cultura do estado da Paraíba.

O disco contém registros de grandes rabequeiros de outrora e do nosso tempo, como Mané Pitunga, Zé Coco do Riachão, Cego Oliveira e Luismário Machado.

Destaque para a presença de Geraldo Idalino (PB), Waldemar da Silva (MA) e Manoel Almiro (SP).

Enfim, este disco fala por si. Aproveite!

AS MÚSICAS DE RABEQUEIROS

quarta-feira, 18 de março de 2009

Coletânea Rabequeiros 2


Olá, rabequeiros e rabequeiras!

Devido ao "estrondoso" sucesso da coletânea Rabequeiros 1, já está na mão a segunda versão da coletânea. Destaque especial para as músicas dos rabequeiros que estiveram presentes no nosso último encontro: Rodrigo Salvador, com seu "Forró d'apertamento"; Renato Boia (nosso agitador cultural) com seu Coco de "Jahnavi"; e este que vos escreve, Igor França, com seu "Agora".
Veja que 25% das músicas presentes nesta coletânea já são fruto da integração musical proporcionada pela internet, seja pela comunidade RABECA, seja pelo Myspace ou por este Blog.

Outro ponto que merece destaque é a presença de duas canções do mestre da música caipira: Pena Branca. "Marcolino" é uma canção tradicional, e é apresentada com a rabeca de Zé Gomes e embalada pelas vozes de Pena Branca e da grande Inezita Barroso.

No mais, temos a presença do amigo Marcos Moletta em duas músicas marcantes: o forróck "O comedor de calango", que conta com a voz de Maurício Baia e o violão do saudoso Tonho Gebara; e "Cordestinos", onde a rabeca dialoga com o violino do francês Nicolas Krassik.

E isso não é tudo! Ainda temos o canto das lavadeiras do Jequitinhonha, com a voz de Ceumar e o violino-rabecado de Felipe Dias; a rabeca pernambucana de Luiz Paixão, o mais que especial romance medieval de João de Calais, na singular rabecada do mestre Cego Oliveira; o "Coco de fulô rodado" do Chão e Chinelo, com o rabequeiro Maciel Salu.

A peça mais especial desta coletânea, na minha opinião, chama-se "Chula no Terreiro". A belíssima canção do Mestre Elomar Figueira de Mello recebe, mais uma vez, a rabeca de Zé Gomes para conferir ainda mais emoção à história dos companheiros que foram sumindo no mundo. Ouça a rabeca, mas preste atenção à letra.

Sem mais delongas, vamos à lista:

1-Forró d'Apertamento
Rodrigo Salvador
Forrófuá

2-Coco de Jahnavi
Banda de Pifes de Niterói
Renato Boia

3-Marcolino
Pena Branca e Inezita Barroso
Semente Caipira
Zé Gomes

4-Agora
Arco da Véia
Igor França

5-Chula no Terreiro
Elomar
Parcelada Malunga
Zé Gomes

6-Coco de fulô rodado
Chão e Chinelo
Maciel Salu

7-O Verdadeiro Romance de João de Calais
Coleção Memória do Povo Cearense
Cego Oliveira

8-Cordestinos
Nicolas Krassik e Cordestinos
Marcos Moletta

9-Eu vou queimar carvão
Companhia Cabelo de Maria
Cantos de Trabalho
Felipe Dias

10-Forró de Vó
Pimenta com Pitu
Luiz Paixão

11-O Comedor de Calango
Baia e RockBoys
Entrada de Emergência
Marcos Moletta

12-Aliança
Pena Branca
Zé Gomes

Ouça e curta!
baixe por aqui:
COLETÂNEA RABEQUEIROS 2

domingo, 15 de março de 2009

Encontro de Rabequeiros no Rio de Janeiro

Foi praticamente um mega-evento. Às 19h do dia 10 de março do ano da graça de 2009 as ruas da Lapa testemunharam o transcendental encontro interestadual de rabequeiros, realizado por iniciativa do agitador cultural Renato Boia.

A rigor, este foi o IV Encontro. Outros já haviam sido realizados, mas nunca com tão forte presença de rabequeiros e amigos da rabeca. Tivemos a incrível participação do Rabequeiro Rodrigo Salvador, de Belo Horizonte, que toca nas bandas Forrófuá e Mundicá. Rodrigo estendeu sua estadia no RJ apenas para participar do encontro, e, ao que me parece, não se arrependeu nem um pouco.



Recebemos, do mesmo modo, o Rabequeiro Guilherme Bedran, de Niterói, acompanhado de sua rabeca confeccionada por ninguém menos que o Mestre Zé Coco do Riachão. Fabricado em 1985, o instrumento apresenta belíssimo trabalho em marchetaria no tampo superior e no espelho, além do finíssimo som já peculiar deste mestre. Guilherme teve a sensibilidade de tocar para nós diversas modas de autoria de Zé Coco, sendo acompanhado pelo Rodrigo, que, como conterrâneo do Mestre, conhecia bem seu repertório.



Recebemos também o ilustre multi-instrumentista Rodrigo Biscoito, que munido de Rabeca e Bandolim, veio abrilhantar ainda mais nossa tertúlia. Seu repertório de choros, sambas e forrós deu um colorido especial ao evento.



Além das celebridades acima citadas, estivemos também eu e Renato Boia, com nossos respectivos instrumentos. Joyce, a rabequeira niteroiense, deixou seu instrumento em casa devido a acidentes de percurso. Todos fazemos fé que seu instrumento seja recuperado o mais rápido possível, pois a confraria rabequista necessita urgentemente de moças em seus quadros! Moças, entretanto, não faltaram, pois Maristani e seu esposo, juntamente com pife e pandeiro, também chegaram junto. Completando a trupe, Marcos Chapa e seu violão ajudaram a animar a festa. Agradecemos também aos amigos e amigas que chegaram junto pra curtir, incluindo aqueles transeuntes que, passando pela Glória, adentraram o boteco pra "'priciar" aquela sonzeira.



Foi uma noite mágica, de intensa alegria e incrível sintonia entre os músicos. Prova de que a tradição da rabeca está mais viva do que nunca e começa a mostrar sua cara na selva anticultural carioca. Esperamos poder fazer eco aos protestos de nosso amigo Marcos Moletta, no que diz respeito a denunciar o preconceito que os produtores culturais têm pelos novos rabequeiros, sempre preteridos.

Já estamos marcando novo encontro para o mês de abril, provavelmente em um feriado. Aguardamos a presença de rabequeiros de outras partes do país, e estaremos trabalhando para proporcionar um local mais adequado, com som, palco e acomodação para mais amigos e amigas da rabeca.

Fiquem agora com um vídeo de nosso encontro. Que mais eventos venham, e mais rabequeiros se agreguem à nossa guilda. Gostou? Ficou com vontade? Então adicione esse blog aos seus favoritos e entre na comunidade RABECA no orkut. Assim você ficará sabendo de todos os nossos passos.



RIBAPARÊIA!!!!

domingo, 8 de março de 2009

Vídeo - Cego Oliveira



Pedro Oliveira nasceu cego. De família pobre, foi pedinte de esmolas durante muitos anos, até receber de seu tio um presente que mudaria sua vida: uma Rabeca.
Foi aprendendo a tocar sozinho, e começou a cantar romances e cordéis com a ajuda do irmão, que lia para ele os versos.

Cego Oliveira, como ficou conhecido, foi um representante de um estilo musical pouco conhecido e em vias de extinção: o romance.
Os romances remontam à Europa medieval, e contam histórias -por vezes bastante longas- em forma de versos com estrofes e rimas intrincadas. Oliveira declarou já ter possuído um repertório de nada menos que 75 "rumances", dentre os quais o famoso "Romance do Pavão Misterioso" e "A verdadeira história de João de Calais". Cego Oliveira, tal qual um menestrel Ibérico, percorria praças e feiras desfiando sua cantoria e ponteando sua rabeca a troco de moedas e dinheiro miúdo dos ouvintes, em sua maioria, gente humilde do sertão do Ceará, cuja única diversão era ouvir elhos cantadores.

A popularização do rádio foi aos poucos acabando com o espaço de Oliveira e outros vates da época, que passaram a sobreviver tocando em velórios, batizados ou aniversários.

Em 1975, Cego Oliveira foi filmado pela diretora Tânia Quaresma no documentário "Nordeste: Cordel, Repente e Canção". Teve sua obra gravada no LP de mesmo nome, cuja capa é reproduzida no topo desta postagem. Mais recentemente, em 1999, a coleção musical "Memória do Povo Cearense" lançou um volume totalmente dedicado à obra do artista popular.

É interessante notar a posição com que toca sua rabeca, apoiada sobre os ombros, e o fraseado simples, utilizando os harmônicos naturais das cordas. Observe também a influência da cantoria de viola, onde o cantador pare de tocar o instrumento enquanto canta, fazendo-se acompanhar de marcação rítmica batucada no próprio corpo do instrumento.

Atualmente, a primeira Orquestra de Rabecas do Brasil, mantida pelo SESC, leva o nome de Cego Oliveira, procurando manter viva a tradição da rabeca de cantoria.
Aprecie os registros visuais