segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Saudades de Mané Pitunga



Pitunga começou a tocar rabeca ainda menino,como ele mesmo conta:

Eu tinha um irmão que tocava rabeca, mais véio do que eu, eu
tava com oito anos e disse que ia tocar uma rabeca e quando ia
pegar na rabeca dele, ele vinha dar n'eu. E mandava me botar no
quarto, pra não pegar na rebeca, e eu falava assim: 'inda vô
arranjar uma rebeca pra eu'.
(*)



Como a maioria dos rabequeiros da região, foi autodidata:
"aprendi sozinho, da cabeça mesmo, ninguém nunca me ensinou". O
primeiro passo foi aprender a afinar o instrumento:
O que faz um bom rabequeiro é o camarada ter boa memória pra
tocar (...) Se faz rabequeiro é assim. O camarada é interessado
em tocar,chega na casa de um que sabe e ele não sabe nem afinar,
o camarada vai e afina pra ele, dá a rabeca, ele vai, desafina e
vai dar a mesma afinação. Se ele arender a afinação,ele toca. Se
ele não aprender, morre de velho e não toca...
(*)



Daí pra frente, Pitunga aprendeu a tocar observando outros rabe-
queiros da região, como Zé Nanô, seu Manu, Luís Soares e Didui,
desenvolvendo a memória musical e tirando melodias de ouvido. (*)




Embora tenha tocado em inúmeras apresentações de babau e de
cavalo-marinho ao longo de sua vida, sua grande paixão sempre foi
o FORRÓ:

Antes d'eu casar, já sabia tocar muito. A minha vida era tocar
baile direto, não tocava cavalo-marinho não, tocava era baile,
diretamente. (...) As brincadeira lá só era no mato, se você
tocava as brincadeiras assim num mato meio de apartado, à noite,
num dia de sábado, era tanta gente que fazia nojo, e hoje em dia
no matagal só tem cana. Lá era assim, a gente tocava na casa dos
amigo, quando a gente ia tocar que chegava no meio da sala era,
doze cavalheiro dançando, com a rebeca tocando, uma batucada mais
bonita do mundo. Dez, doze cavalheira, cobrava a dois mil réis a
cota, e nesse tempo, dançando dez cavalheiro mais dez cavalheira
a dois mil réis, dava vinte mil réis a noite. Era dinheiro que o
pesto. Que naquele tempo o sujeito com dez mil réis no bolso ia
no supermercado... mas tem uma coisa, não era muito bom de vida
não, que naquele tempo os engenho morria e os trabalhador era pra
cá de morrer de trabalhar.
(*)



*Texto retirado do catálogo da exposição realizada entre 29 de março e 6 de maio de 2001:

Rabecas de Mané Pitunga
Pesquisa e texto de Gustavo Pacheco e Maria Clara Abreu;
apresentação de Siba. - Rio de Janeiro: Funarte,
CNFCP, 2001.
32 p. ISSN 1414-3755

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